Edição como montagem ideológica: cortes que contam segredos

Em “Cidadão Kane” (1941), Orson Welles usa um jump cut para saltar décadas na vida do protagonista. O corte não é apenas técnico: é um comentário sobre como a mídia fragmenta a memória. Já em “Bacurau” (2019), a edição frenética durante a cena do massacre reflete a violência caótica do colonialismo. A montagem, longe de ser neutra, é uma máquina de criar significados — e apagá-los.

Como a edição manipula ideias:

  • Ritmo acelerado: Cenas rápidas podem induzir ansiedade ou ocultar informações (ex: documentários pró-governo que evitam pausas para reflexão).

  • Raccord quebrado: Cortes bruscos geram desconforto, útil para criticar sistemas opressores (como em “Terra em Transe”, de Glauber Rocha).

  • Silêncios estratégicos: Uma pausa prolongada antes de um diálogo crucial força o espectador a “ouvir” o não dito.

Casos de estudo:

  1. “O Encouraçado Potemkin” (1925): A sequência da escadaria de Odessa usa montagem para transformar sangue em bandeira revolucionária.

  2. “Ilha das Flores” (1989): Os cortes secos entre lixo e supermercados denunciam a lógica perversa do capitalismo.

Exercício prático:
Edite uma cena de 1 minuto onde duas pessoas discutem. Na versão A, use cortes rápidos e close-ups para sugerir que uma pessoa é “agressiva”. Na versão B, use planos longos e silêncios para mostrar ambiguidade. Compare os resultados: qual narrativa você impôs?

A ética da edição está em reconhecer que cada corte é uma mentira necessária. Seu desafio é decidir quais mentiras servem à verdade maior.

Rolar para cima