No audiovisual, a cor é uma ferramenta política. Em narrativas periféricas, a escolha dos tons transcende a estética e se converte em crítica social. Não se trata de suavizar a realidade, mas de expô-la com toda sua crueza. A paleta de cores usada em produções que abordam a periferia revela a luta contra a marginalização, evidenciando, em cada matiz, a tensão entre o oprimido e o sistema.
A seleção dos tons – desde os vibrantes que simbolizam a resistência cultural até os frios que denunciam a dureza do cotidiano – não é fruto do acaso. É uma estratégia deliberada para resgatar a identidade de comunidades historicamente esquecidas. Em muitos projetos audiovisuais, os cineastas optam por cores que vão além do mero enquadramento: elas carregam a memória e a experiência de um povo que enfrenta diariamente as contradições do capitalismo. A estética torna-se, assim, um instrumento para confrontar a lógica do lucro e expor as desigualdades estruturais.
Ao escolher cores mais saturadas e contrastantes, os diretores sinalizam a intensidade das vivências periféricas. Por outro lado, o uso de tons desbotados pode sugerir a resignação imposta por condições adversas e a negligência estatal. Essa dicotomia não serve para romantizar o sofrimento, mas para evidenciar a materialidade das lutas e o peso da exploração. Em produções independentes, essa paleta atua como um manifesto visual: a cor denuncia onde o discurso oficial insiste em pintar a realidade com tons pastéis e convenientes.
A cor, na resistência, não é decorativa. Ela articula narrativas que se recusam a ser conformadas pelo padrão hegemônico. Cada escolha tonal é um recorte de uma história de luta, um registro das contradições que permeiam o cotidiano nas periferias. Essa abordagem, imersa no realismo materialista, convida o espectador a não se deixar embalar por ilusões, mas a encarar a realidade nua e crua – uma realidade em que a estética se alia à denúncia e à transformação social.